Paisagem Movediça recebe prêmio FestFoto – Museu da Fotografia (CE)

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A série do fotógrafo goiano, Bruno Bernardi, retrata o desastre ambiental de Mariana (MG).

O prêmio, oferecido aos participantes da Plataforma Internacional de Leituras de Portfólio do FestFoto 2018, é resultado da parceria entre o Festival e o Museu da Fotografia de Fortaleza (CE) e garante a compra de um conjunto de imagens pela instituição.

Além de um importante estímulo à produção fotográfica, um prêmio de aquisição significa a incorporação de uma temática ao inventário de imagens que comporão a visualidade do Brasil contemporâneo. Neste caso, a relevância do trabalho é enorme já que oferece um inventário do impacto do rompimento das barragens de rejeitos da mineradora Samarco, em novembro de 2015.

Desenvolvido em três etapas, Paisagem Movediça ressalta as transformações da paisagem, devastada por uma avalanche de 62 milhões de metros cúbicos de lama. A primeira fase produzida poucos dias após o desastre e encontrou a lama estava fluida e movediça, expondo as digitais da correnteza que cobriu pequenas propriedades rurais e alguns pequenos distritos. Três meses depois, Bruno trabalhou em um solo mais estável e dirigiu sua atenção ao interior das residências. As marcas da catástrofe são contundentes em cenários domésticos transformados em depósito de entulhos. A terceira fase, desenvolvida entre 2017 e 2018, foi dedicada à observação do ressurgimento da vegetação, retratando a capacidade e a resiliência da natureza ao se recuperar e reocupar ambientes que não voltaram a contar com a presença humana.

Fotografia e natureza

É possível relacionar o trabalho de Bruno à uma prática fotográfica preocupada em problematizar os impactos da atividade humana e observar a dinâmica própria da natureza que constituiu uma importante contribuição ao alerta sobre a fragilidade dos ecossistemas naturais. No Brasil, tanto a chamada fotografia de natureza quanto a vertente ligada à fotografia de documentação social produziram trabalhos caracterizados por um grande envolvimento pessoal dos profissionais. Em uma abordagem  em profundidade e bastante vinculada a pautas engajadas, fez a denúncia ou na defesa do patrimônio ambiental do país. Estes trabalhos são fundamentais por exercitarem uma abordagem pragmática que inclui os impactos ambientais das atividades econômicas no balanço de seus resultados. O trabalho de Bruno coloca ainda uma dimensão de tempo que deveria nos levar a pensar que, ao contrário da crença difundida de uma suposta conquista humana sobre o ambiente, somos um elo bastante frágil na rede que sustenta a vida no planeta. Bruno confirma em Mariana um dado já observado na recuperação de cenários de desastre em várias partes do mundo: a resiliência de outras animais e vegetais é bem maior que a nossa. Caberia cuidado e não soberba.

Dessa forma, a incorporação do Paisagem Movediça ao Museu da Fotogafia de Fortaleza é uma garantia de institucionalização e de presença em um inventário que dará conta das nossas experiências contemporâneas. É uma contribuição importante para a esperança de que, em algum momento, possamos acumular conhecimento e aprender com nossos erros.

Bruno Bernardi

Natural de Goiânia (GO), biólogo, trabalhou no Departamento de Multimeios da Unicamp. Em Nova York, frequentou cursos livres voltados à técnica de Sistema de Zonas na SVA (School of Visual Arts); especializou-se em Comunicação e Arte com ênfase em Fotografia (Senac, 2005) e publicou o fotolivro Da Cor: 30 fotografias. Trabalhou como editor de fotografia para publicações do Centro de Estudo em Sustentabilidade da FGV (Revista Página22). Desde 2015, dedica-se exclusivamente ao seu trabalho artístico e tem participado de diversas exposições coletivas e salões. A série Paisagem Transitória foi exposta em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Salvador, Recife, Goiânia e Brasília.

Para ver mais, acesse  Paisagem Movediça

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